Em um cenário complexo como o atual, em que ainda não sabemos muito bem como as relações humanas e profissionais se ajustarão a uma convivência orientada pelo distanciamento físico e social, é natural que sentimentos como ansiedade, tristeza e solidão se aprofundem.
No entanto, embora as coisas possam parecer pessimistas, um estudo recente liderado por Kate Barford, da Universidade Deakin, na Austrália, revela que é surpreendentemente raro uma pessoa experimentar emoções puramente negativas. Mais comumente, as pessoas experimentam uma mistura de emoções, mesmo durante a pandemia do COVID-19.
Barford e seus colegas descobriram que as emoções “mescladas” geralmente surgem quando as emoções negativas se intensificam e logo se misturam às emoções positivas que já estavam em andamento.
Portanto, sentimentos ruins nem sempre eliminam completamente os positivos, como se estivessem desligando um interruptor de luz. Pelo contrário, é muito mais provável que transformem sentimentos positivos em emoções contraditórias, misturadas.
Em uma pesquisa realizada em 15 países, alcançando quase 14.000 pessoas, a Ipsos identificou que 43% dos entrevistados estão ansiosos para voltar à vida normal, 34% estão preocupados com sua saúde, enquanto 15% se sentem sozinhos e 12% estão com raiva das restrições que se impuseram à sua liberdade.
Ao mesmo tempo, mais da metade dos respondentes (55%) está preocupada com aqueles que são mais vulneráveis, e quase um terço dos entrevistados (31%) se sente feliz por poder passar mais tempo com a família. Finalmente, um em cada cinco participantes (22%) se sente inspirado ao ver como as pessoas estão se adaptando a uma nova realidade.
Esses resultados demonstram claramente que as pessoas foram afetadas de diferentes maneiras pela atual crise. Portanto, a resposta emocional de cada indivíduo será alavancada na interpretação da realidade e nas estratégias de enfrentamento que escolha para lidar com a situação. O enfrentamento, nesse caso, pode ser entendido como o esforço cognitivo e comportamental que permite às pessoas lidar com situações novas, difíceis e estressantes que excedem seus recursos individuais.
Diante dessa nova realidade em que vivemos, os colaboradores esperam que as organizações sejam suas aliadas na promoção de seu bem-estar. Isso porque lidar com o distanciamento físico, com os desafios do home office e o equilíbrio das demandas familiares e profissionais pode impactar a qualidade de vida das pessoas e, consequentemente, o desempenho delas no trabalho.
De fato, de acordo com uma pesquisa realizada pela Metlife, 41% dos colaboradores sentem que seu empregador não oferece benefícios ou programas para apoiar ou melhorar seu bem-estar durante esse período difícil, enquanto 77% dizem que existem benefícios ou programas que, se fossem oferecidos pela sua organização, aliviariam seu estresse e melhorariam seu bem-estar.
Portanto, a pandemia do COVID-19 tem feito com que as organizações ofereçam mais apoio aos seus colaboradores, e aquelas que o fazem são vistas de maneira mais favorável, como demonstrado pelo estudo da MetLife. Os respondentes que indicaram que seus empregadores estavam "fazendo o suficiente" ou "superando as expectativas" em relação ao suporte disponibilizado durante a pandemia se sentiram muito melhor do que aqueles que disseram que suas empresas não haviam feito nada ou que não tinham planos para começar a fazer alguma coisa (58% versus 31%). Esses colaboradores também relatam sentir-se mais produtivos, comprometidos, valorizados e apreciados por sua organização, recebendo benefícios que os ajudam a cuidar das diferentes dimensões de seu bem-estar.
Passados mais de três meses desde o início da rápida propagação do novo coronavírus na América Latina, não há dúvida de que a pandemia causou uma mudança profunda em nossa rotina, em nossos relacionamentos, em nossa percepção de autocuidado e cuidado com os outros, e na maneira como imaginamos o futuro, pautada por esse "novo normal", tão falado ultimamente.
Cada pessoa precisa ir tomando consciência de seu próprio “mix” de emoções e, ao mesmo tempo, demonstrar empatia pelos outros, acolhendo cada maneira particular de lidar contingência: para alguns, o distanciamento físico tem sido uma oportunidade para se aproximar da família; para outros, ficar em casa por tanto tempo é sinônimo de solidão; outros, por sua vez, se sentem felizes um dia e frustrados no dia seguinte.
Em meio a tantos sentimentos diversos, é decisivo que as organizações ofereçam a seus colaboradores as ferramentas e os recursos que promovam seu bem-estar emocional, ajudando-os a encontrar suas próprias estratégias de enfrentamento, para que possam emergir desta crise mais resilientes e fortalecidos.
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