É bem provável que 2020 tenha sido o ano mais difícil e desafiador para esta geração. A pandemia nos atingiu com força, limitou nossa mobilidade e nos afastou de amigos e familiares. Por outro lado, não há dúvida de que temos conseguido aprender e reaprender muito nos últimos meses. Se pensarmos nas nossas organizações, o fato é que esta crise nos ensinou que trabalhar a partir de casa de forma confortável, desenvolver novos protocolos para ter um ambiente de trabalho seguro e apoiar as pessoas em sua saúde física e emocional são atitudes fundamentais que se tornaram questões prioritárias.
É por isso que hoje a experiência dos colaboradores, ou employee experience, é mais importante do que nunca, e ganhou uma nova dimensão e uma relevância estratégica que impulsionam uma revisão profunda dos processos e a incorporação de novas tecnologias para otimizar a interação com e entre os colaboradores, algo que foi absolutamente essencial no contexto do distanciamento físico que tivemos de enfrentar.
De acordo com um estudo recente da Accenture, 76% dos executivos acreditam que as organizações devem reprojetar drasticamente as experiências que unam pessoas e tecnologia, para que essas experiências sejam mais centradas no ser humano e menos nos recursos tecnológicos.
Este é o desafio que temos agora: redesenhar de forma drástica e dramática a estratégia de employee experience em nossas organizações. Chegou o momento de considerar todos os aprendizados dos últimos meses, avaliar o contexto atual, analisar tendências e o mais importante: ouvir os colaboradores, tendo em conta as suas novas necessidades e as diferentes modalidades de trabalho que temos hoje.
A tarefa é árdua, mas podemos contar com um método consagrado para darmos os primeiros passos: o design thinking, com seu processo criativo de resolução de problemas.
O objetivo central do design thinking é abordar problemas complexos a partir de uma perspectiva humana, fomentando a criatividade, a inovação e o foco nas pessoas, o que nos ajuda a encontrar soluções desejáveis para o colaborador, viáveis para o negócio e tecnologicamente factíveis.
De forma bastante resumida, apresentamos a seguir as 5 etapas para aplicar o design thinking na criação de uma nova estratégia de employee experience:
Empatizar: entenda quem são seus colaboradores e do que eles precisam.
Definir: estabeleça qual é o problema específico que você deseja resolver.
Elaborar: pense em soluções possíveis para o problema definido.
Prototipar: transforme suas ideias em algo tangível que possa ser testado com usuários reais.
Testar: coloque os protótipos diante de usuários reais e veja como eles se saem.
Fonte: Carreer Foundry
Esses princípios de design thinking podem ser aplicados de forma bastante concreta na criação de um Employee Journey Map, que nos permite visualizar objetivamente o que a Gallup define como “a jornada que um funcionário faz em sua organização. Inclui todas as interações que ocorrem ao longo do ciclo de vida do funcionário, além das experiências que envolvem sua função, seus líderes, o ambiente de trabalho e seu bem-estar ”.
Um mapa da jornada dos colaboradores cria algo que é único para sua organização. É verdade que existem diversos modelos, e a seguir daremos uma sugestão, mas o mapa que você consiga desenhar será a expressão da cultura e da identidade da sua organização, onde estarão refletidos os principais marcos da "viagem" do colaborador e todos os pontos de contato nos quais devemos garantir que eles desfrutem da melhor employee experience.
Este mapa que escolhemos como exemplo nos parece excelente porque vai além dos marcos profissionais do colaborador: também considera fatos importantes em sua vida pessoal, como o casamento, a mudança para uma nova casa, o nascimento de um filho... em cada uma destas situações, a organização pode acompanhar o colaborador e proporcionar-lhe a melhor experiência através do reconhecimento, que é um pilar fundamental da cultura para aumentar o engagement e o desempenho das pessoas.
A propósito, de acordo com pesquisa da Psychometrics, 58% dos colaboradores afirmam que o reconhecimento é a melhor forma para melhorar seu compromisso. Portanto, por meio do Employee Journey Map é possível identificar diferentes oportunidades para fortalecer o senso de pertencimento das pessoas e fazer com que elas tenham uma employee experience excepcional ao longo de sua trajetória na organização.
“As organizações que possuem um Employee Journey Map conseguiram aumentar o engajamento dos colaboradores em 25,3% de um ano para o outro, ante um crescimento de apenas 10,8% para as organizações que não utilizavam um mapa”.
Fonte: Aberdeen Group
Para tornar um mapa da jornada do colaborador ainda mais específico, podemos incorporar um conceito bem conhecido em Marketing que, adaptado ao contexto de Recursos Humanos, foi definido como Employee Persona.
Com a adoção do processo de design thinking, uma conclusão natural é entender, embora possa soar elementar, que “nem todos os colaboradores são iguais”. Portanto, as necessidades de um desenvolvedor de software são provavelmente bem diferentes daquelas de um colaborador operacional que trabalha em uma planta industrial. Logo, é fundamental olhar para as pessoas, considerar suas particularidades, suas experiências, personalidades, interesses, etc.
Esse conceito de Employee Persona também nos ajuda a entender que alguém começando em uma posição júnior terá uma jornada bem diferente de alguém entrando no nível de vice-presidente, por exemplo. A construção de um Employee Journey Map mostra-se uma grande oportunidade de conhecer muito melhor a nossa organização e as pessoas que dela fazem parte. Desta forma, é possível entender o que os colaboradores fazem, identificar suas expectativas, saber o que funciona para eles e o que pode melhorar, para finalmente ter elementos concretos que nos permitam desenhar uma experiência incrível e autêntica, focada no que as pessoas da nossa organização realmente esperam e precisam.
Termino este artigo citando Josh Bersin, que resume com maestria o desafio que temos atualmente diante desta nova realidade que mudou profunda e permanentemente o mundo do trabalho: “Hoje, temos de olhar para os 'colaboradores sem escritório' (que trabalham em lojas, fábricas, etc.) de uma forma muito diferente dos 'colaboradores de escritório'. Temos que analisar a jornada dos colaboradores por função, idade e até localização. Portanto, a segmentação da força de trabalho tem dezenas de dimensões, o que torna a gestão da employee experience ainda mais interessante (e complicada) do que nunca."
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